Abras faz proposta para vender medicamentos em supermercados. Abrafarma rebate

Abrafarma repudiou a proposta e fez duras críticas

A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) divulgou uma nota que reforça suas propostas apresentadas ao governo federal para enfrentar os desafios econômicos no Brasil. No texto, a entidade propôs medidas como a reestruturação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) – por meio do PAT e-social e com apoio da Caixa Econômica Federal -, e que pode gerar economia da ordem de R$ 10 bilhões anuais; a venda de remédios sem receita nos supermercados, que pode reduzir os preços em 35%; a modernização do sistema de prazos de validade – o chamado Best Before -; e a redução do prazo de reembolso dos cartões de crédito. Segundo a Abras, os principais objetivos das medidas sugeridas são a redução dos custos de vida das famílias brasileiras, a promoção de emprego, a segurança alimentar, a recuperação econômica e o fortalecimento do varejo alimentar.

Uma das medidas, a de vender remédios que não necessitam de receita nos supermercados, gerou duras críticas por parte da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias. A entidade, inclusive, emitiu uma nota com vários questionamentos a respeito do assunto. A Abras, ciente do conteúdo da nota da Abrafarma, também emitiu uma nota oficial. Confira abaixo as notas emitidas pelas entidades:

NOTA DA ABRAS (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SUPERMERCADOS):

Todo remédio no Brasil conta com a supervisão de um farmacêutico, e nós, da ABRAS, temos o maior respeito pelos farmacêuticos e farmacêuticas do país. Por isso, incluímos em nosso projeto a proposta de contratação de farmacêuticos para esclarecer quaisquer dúvidas dos consumidores, seguindo o mesmo formato já utilizado pelas farmácias nas vendas online.

Nosso objetivo é reduzir os preços dos remédios. Segundo o jornal Folha de São Paulo, um estudo feito pela Nielsen comprovou que, durante o período em que os supermercados foram autorizados a vender remédios que não precisam de receita médica, os preços foram reduzidos em cerca de 35%, beneficiando todos os consumidores brasileiros.

A nota da ABRAFARMA causa estranheza, especialmente pelo tom agressivo em relação ao mercado, considerando que hoje a maioria das farmácias comercializa de tudo, inclusive remédios. Esquece a ABRAFARMA que as farmácias vendem remédios online e fazem entrega a domicílio. Por que as farmácias podem vender remédios sem receita via online e os supermercados não podem vender remédios sem receita de forma presencial?

Nos países desenvolvidos, como Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Japão, Canadá e Suíça, há muito tempo é permitida a venda de remédios sem receita nos supermercados.

Enquanto a ABRAFARMA, conforme sua própria nota, está preocupada em manter a reserva de mercado e, consequentemente, o lucro das farmácias, a ABRAS está comprometida em defender os interesses dos consumidores.

Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS)

Com quase 60 anos de atuação, a ABRAS representa o varejo alimentar brasileiro, responsável por movimentar 9,02% do PIB nacional e gerar mais de 9 milhões de empregos. A ABRAS integra 27 entidades estaduais de supermercados e representa mais de 414 mil lojas em todo o Brasil.

NOTA DA ABRAFARMA (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE REDES DE FARMÁCIAS E DROGARIAS):

A respeito de notícia dando conta que o governo federal pretende liberar medicamentos em supermercados para supostamente reduzir inflação de alimentos, a ABRAFARMA tem a declarar que:

1. MIPs são um importante setor da farmácia e representam cerca de 30% das vendas. Portanto, o impacto econômico sobre as farmácias (das grandes às pequenas) seria desastroso;

2. Nas 93.000 farmácias brasileiras, que cobrem 99% das cidades do país, geramos 2 milhões de empregos diretos; 56.000 farmácias são optantes do simples/micro-empresas. Aprovar MIPs em supermercados, apenas para lhe dar MAIS UMA categoria de vendas, é provocar o desequilíbrio econômico de um setor que funciona bem e é muito respeitado em todo o mundo, em risco;

3. Como o custo da operação de uma farmácia é alto (aluguel, salários, estoques e outros ), provavelmente haveria um efeito rebote de aumento no preço dos medicamentos de prescrição, impactando negativamente na saúde da população, principalmente os mais pobres;

4. Farmácias não geram inflação. Muito pelo contrário: compõem um setor competitivo, que presta bons serviços e é bastante apreciado pela população;

5. MIPs, apesar de não exigir receita, tem riscos e muitas vezes exigem indicação específica, tanto que em 68% das vezes o cliente esclarece suas dúvidas com o farmacêutico acerca do uso. Exemplos:

– quais desses xaropes não dá sono?

– pode dar esse analgésico para criança?

– posso dirigir depois de usar esse relaxante muscular?

– posso usar paracetamol tendo problema no fígado?

– posso usar a combinação desses dois MIPs para gripe?

– tenho gastrite, qual desses MIPs posso usar sem piorar minha doença?

Quem vai responder a essas perguntas no supermercado? O açougueiro? O padeiro? O caixa?

6. Apesar de seguros, MIPs podem MASCARAR SINTOMAS. Uma pessoa que só controla dor de cabeça com analgésico e não controla a hipertensão que a causa, é a mesma que vai agravar, ter AVC, Infarto e desenvolver nefropatia, e custar caro ao estado no médio prazo (e já morrem 500 mil pessoas/ano no Brasil de acidentes vasculares, pois não cuidam da doenças de base);

7. Meta-análises – ou seja, estudos padrão ouro, que geram consensos científicos – publicados recentemente em revistas científicas, tem demonstrado inúmeros fatores negativos na venda de MIPs em Autosserviço de outros países. Tanto que Austrália e França recentemente impuseram novos limites atais vendas;

8. É falacioso o argumento que os supermercados venderiam medicamentos com preços até 35% mais baixos. Nós monitoramos preços de mais de 1000 itens comuns a farmácias e supermercados, e estes estabelecimentos vendem mais caro em 50% das vezes. Por que então já não vendem mais barato itens como fraldas, cotonetes, tinturas e outros?

Por fim, essa notícia chega um dia depois de o Presidente Lula ter afirmado que aguarda uma “marca” que represente um legado dessa gestão do ministério da saúde em seu governo. Será lamentável que, num governo que sempre colocou a saúde das pessoas em primeiro lugar, a “marca” dessa gestão Lula 2023-2026, seja a destruição das farmácias, o aumento da automedicação, e o agravo de doenças crônicas na população.

Sérgio Mena Barreto CEO da Abrafarma

Fonte: https://www.vvale.com.br/geral/abras-faz-proposta-para-vender-medicamentos-em-supermercados/

Compartilhe: