De cada dez caixas de medicamentos distribuídos a hospitais e farmácias, seis ocorrem via distribuidor
Vivemos em um país complexo e ao mesmo tempo extraordinário: quinto maior país do mundo em extensão territorial, com aproximadamente 8,4 milhões de quilômetros quadrados, cortados por quase dois milhões de quilômetros de rodovias, com 42 mil quilômetros de rios potencialmente navegáveis, 19 deles economicamente navegáveis, o que permite acessar os 5.570 municípios que abrigam os mais de 212 milhões de habitantes, como você e eu.
Um país desse porte tem um grande desafio de levar saúde a todos os seus cantos, atingindo todos os seus cidadãos. Para tal, contamos com uma estrutura gigantesca, que muitas vezes parece não atender as diversas demandas da sociedade. Mesmo assim, segue sendo um dos sistemas de saúde mais robustos do mundo.
O Sistema Único de Saúde (SUS) conta com cerca de 42 mil UBSs, 1.800 UPAS, 2.400 centros de atenção psicossocial. Estima-se que o sistema único de saúde brasileiro realiza mais de 2,5 bilhões de consultas e 12,5 milhões de internações hospitalares por ano. Por falar em hospital, no Brasil, entre públicos e privados são mais de sete mil.
Vamos pensar “apenas” no suprimento de medicamentos, insumo crucial para o bom atendimento à população, seja no sistema hospitalar ou ambulatorial, este último contando com as mais de 90 mil farmácias ativas em nosso País, que são fundamentais na dispensação de medicamentos e serviços de atenção farmacêutica.
Então chegamos ao título desse artigo – os distribuidores de medicamentos. São necessários?
Para responder a essa questão, imaginemos dois “Brasis”:
O primeiro, composto por mais de quatro mil municípios com menos de 50 mil habitantes, boa parte deles em regiões remotas, onde o acesso é difícil e os serviços, mesmo do Estado, são mais restritos. Sejam hospitais ou farmácias, esses são abastecidos majoritariamente por distribuidores, que asseguram a chegada dos medicamentos, independente da distância e porte do comprador.
Isso traz uma série de desafios ao setor da distribuição, como viabilidade logística em si, garantia de que o medicamento chegue ao seu destino absolutamente intacto, equilíbrio de concessão de crédito e sobretudo a sustentabilidade financeira desses distribuidores. Afinal, medicamentos respeitam uma série de regras governamentais tanto do ponto de vista sanitário e regulatório, mas também por controle nacional de preços e uma complexa cadeia de impostos que variam muito de região para região, estado para estado.
Trata-se de uma equação complexa. Planejamento, eficiência operacional e financeira, com muito capital investido, aumentando o risco para esses empresários, como inadimplência, custos de deslocamento, roubo de carga, etc.
O outro “Brasil” é o das metrópoles, cidades com mais de um milhão de habitantes – menos de 20 em nosso País, mas que traz desafios diferentes e não menos complexos. Além de todos os apontados no “outro brasil” aqui se somam as questões de mobilidade, violência e acesso a diversos centros por razões geográficas, entre outras.
Atualmente, segundo dados de mercado, as distribuidoras de medicamentos, seja nos hospitais ou farmácias, tem uma representatividade de cerca de 60%. Ou seja, de cada dez caixas de medicamentos distribuídos a hospitais e farmácias, seis ocorrem via distribuidor.
Em termos geográficos, as cidades com menos de 50 mil habitantes dependem mais ainda dos serviços da distribuição. E nas metrópoles esse peso não é desprezível. Quando observamos as farmácias presentes nesses municípios, encontramos majoritariamente as chamadas “independentes”, onde essa importância no abastecimento via distribuidor farma sobre para mais de 93%.
Dessa forma fica claro que o trabalho da distribuição é decisivo para o bom funcionamento do sistema de saúde, contribuindo com o acesso a milhões de pessoas, levando medicamentos em condições de consumo, independentemente de sua complexidade, (há medicamento refrigerados e cuidados especiais que exigem ainda mais eficiência) preço ou mesmo quantidade.
Se para o consumidor a distribuição é crucial, podemos entender que para a indústria também. Afinal a função da indústria é produzir e inovar e não distribuir.
Assim cabe a reflexão dos setores público e privado quanto a valorização desse elo silencioso da cadeia que fica esquecido quando um dos mais de 500 mil médicos lançam mão de um medicamento para tratar milhões de pacientes.
Se o medicamento está lá, pode ter certeza que a chance de um distribuidor farma ter atuado é enorme.
Fonte: Cesar Bentim, publicitário e profissional de marketing, conselheiro consultivo certificado, consultor e empreendedor no segmento de saúde. Fundador da consultoria Artegist Healthcare Consulting, com sede em São Paulo e filial em Lisboa, Portugal