Doenças cardiovasculares: polipílula pode evitar 2 milhões de mortes por ano; entenda

Cardiologistas defendem que medicamento é uma opção simples e barata que pode levar a um impacto significativo na epidemiologia de problemas cardíacos

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no mundo. Porém, especialistas defendem que milhões de casos dos problemas ligados ao coração, e dos óbitos provocados por eles, poderiam ser prevenidos com a adesão a um simples e barato tratamento: a polipílula. O medicamento é uma combinação de três remédios em um, dois para a diminuição da pressão arterial e do colesterol, além da aspirina.

Em artigo publicado nesta semana na revista científica The Lancet, apresentado no Congresso Mundial de Cardiologia, no Rio de Janeiro, o presidente da Federação Mundial do Coração, Fausto Pinto, e o diretor executivo do Instituto de Pesquisa de Saúde da População (PHRI), Salim Yusuf, defendem que mesmo uma adesão de apenas metade dos pacientes à polipílula já reduziria consideravelmente as 18 milhões de mortes anuais por problemas cardíacos, que acontecem majoritariamente (80%) em países de média e baixa renda, como o Brasil.

“Mesmo com apenas 50% de adoção, nossas estimativas sugerem que o uso da polipílula poderia evitar aproximadamente 2 milhões de mortes por doenças cardiovasculares e 4 milhões de eventos cardiovasculares a cada ano. Esses benefícios substanciais são cruciais para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da OMS de reduzir as mortes por doenças não transmissíveis em 30% globalmente até 2030 (com 50% de adoção) e em 50% até 2040 (com 80% de adoção). Várias análises indicam que a polipílula pode ser econômica (um efeito dominante, ou seja, evitar mortes e economizar dinheiro)”, escreveram os pesquisadores na Lancet.

A polipílula foi proposta no início dos anos 2000, mas pouco se sabia ainda sobre os reais benefícios do medicamento combinado. Eles afirmam que hoje, porém, há dados de três estudos em larga escala que mostram que a combinação reduz em cerca de 50% o risco para eventos cardiovasculares, principalmente entre os acima de 55 anos. Para os especialistas, os dados mostram que utilizar a polipílula de forma ampla pode “reduzir com segurança e substancialmente o risco de futuras doenças cardiovasculares, sem abordagens especiais de rastreamento”.

Porém, alertam que “apesar das evidências científicas substanciais da alta eficácia, segurança e acessibilidade da polipílula, poucos desses produtos combinados estão disponíveis e, nos poucos países onde estão disponíveis, o uso é baixo. (…) Essa falha sistêmica é uma tragédia global, pois muitas mortes prematuras por DCV poderiam ser evitadas”, alertam os cardiologistas.

Para os cardiologistas, há algumas formas de incentivar o uso da polipílula. Eles afirmam ser necessários encorajar farmacêuticas a investirem no desenvolvimento do medicamento, especialmente de novas formulações com doses mais adequadas de cada um dos princípios ativos. Além disso, fabricá-las com componentes genéricos para que os produtos sejam vendidos por preços baixos garante o acesso da população sem comprometer o retorno das farmacêuticas, dizem os médicos. Os especialistas pedem ainda que a OMS atualize as diretrizes para incluir o tratamento nas orientações.

“Polipílulas não estão incluídas nas diretrizes atuais para prevenção de doenças cardiovasculares ou na Lista de Medicamentos Essenciais da OMS. Pelos dados robustos sobre os benefícios, segurança e custo-benefício da polipílula, esperamos que a polipílula seja incluída na Lista de Medicamentos Essenciais e nas diretrizes para prevenção de doenças cardiovasculares primárias e secundárias. Isso encorajaria governos e companhias de seguros, especialmente em países de baixa e média renda, a incluí-lo em seus formulários e encorajar os médicos a recomendar seu uso”, escreveram os pesquisadores.

Fonte: https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2022/10/doencas-cardiovasculares-polipilula-pode-evitar-2-milhoes-de-mortes-por-ano-entenda.ghtml

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