Indústria farmacêutica nacional se prepara para um ciclo de expiração de patentes e para a chegada de medicamentos biológicos mais acessíveis
O mercado de medicamentos genéricos segue em trajetória de crescimento no Brasil, consolidando-se como um dos pilares para a ampliação do acesso a tratamentos de qualidade e com menor custo. Desde que foram lançados em 1999, os genéricos conquistaram espaço entre médicos, farmacêuticos e pacientes, e hoje já representam cerca de 30% das vendas de medicamentos de prescrição no país, segundo dados da PróGenéricos.
Em 2024, as vendas cresceram 38,6%, totalizando mais de 2 bilhões de unidades comercializadas. Um avanço expressivo que reforça a relevância desse segmento, ainda distante de mercados mais maduros como Estados Unidos, Índia e China, onde a participação varia entre 60% e 80%.
Os genéricos chegam ao consumidor com preços ao menos 35% inferiores aos medicamentos de referência, mas na prática o desconto pode ultrapassar 50%. Isso significa economia direta para o paciente e também para o sistema público de saúde, sobretudo diante do envelhecimento populacional e da necessidade crescente de medicamentos de uso contínuo. “Além de ampliar o acesso, os genéricos trazem um impacto direto na farmacoeconomia, reduzindo custos tanto para a população quanto para o governo”, destacou Fábio Alguim, diretor sênior da IQVIA.
O executivo da IQVIA e Letícia Covasi, empreendedora, consultora em propriedade intelectual e fundadora da I9PI, falaram mais sobre o tema “Genéricos e patentes: o que vem por aí?”,durante o AbradilanCast, um projeto de conteúdo da entidade, que consiste em um programa de videocasts e podcasts, com temas relevantes para o mercado farmacêutico e que teve sua terceira edição durante a realização do Conexão Farma, em março de 2025.
Desafios e oportunidades com o fim de patentes
O crescimento dos genéricos está intimamente ligado ao ciclo de patentes. Com a expiração de importantes registros, novas oportunidades surgem para a indústria nacional. Apenas em 2025, oito medicamentos terão suas patentes expiradas, abrindo espaço para a entrada de versões genéricas com preços mais competitivos.
Letícia Covasi, reforça que o processo exige alta especialização. “Um produto farmacêutico não tem apenas a patente da molécula. Há também patentes de dispositivos, composições e processos. Para lançar um genérico, é preciso um trabalho detalhado de análise de liberdade de exploração, que pode envolver mais de 30 patentes relacionadas a um único medicamento”.
Apesar de avanços regulatórios, ainda existem dúvidas entre consumidores sobre a eficácia dos genéricos. A Anvisa é responsável por garantir a qualidade, com auditorias em fábricas, testes de bioequivalência e monitoramento de farmacovigilância. “A agência brasileira é reconhecida internacionalmente, mas precisa de mais investimento e estrutura para ampliar sua capacidade de fiscalização”, avalia Letícia.
Distribuição estratégica
Outro ponto essencial para a força dos genéricos no Brasil é a rede de distribuição. Diferente dos medicamentos de referência, cuja venda costuma ser concentrada, os genéricos dependem de uma logística pulverizada. Segundo a Abradilan, distribuidores regionais respondem por cerca de 49% das vendas de genéricos e similares ao varejo. “O distribuidor deixou de ser apenas um tirador de pedidos e passou a atuar como consultor, oferecendo inteligência de mercado ao pequeno varejista”, explica Alguim.
O próximo capítulo desse mercado passa pelos biossimilares — versões de medicamentos biológicos de alto custo, voltados especialmente para áreas como oncologia e imunoterapia. O segmento exige investimentos elevados em tecnologia, cadeia fria e processos de alta complexidade, mas representa um salto em acesso a tratamentos inovadores. “Falar de genérico é falar de acesso. O futuro será marcado por biossimilares e testes genéticos, ampliando ainda mais as possibilidades de diagnóstico e tratamento”, conclui Letícia.
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Fonte: Abradilan