Estamos diante de um ecossistema altamente digitalizado, integrado e orientado ao cuidado com as pessoas, funcionando como um novo modelo de saúde conectado
O varejo farmacêutico chinês movimentou US$400 bilhões em 2024, com cerca de 660 mil estabelecimentos e 1,4 bilhão de consumidores, representando cerca de 17,2% da população mundial. O mercado de distribuição farmacêutica apresentou aumento de 5,7% em sua taxa composta de crescimento anual (CAGR), impulsionado, principalmente, por medicamentos inovadores, biológicos e tratamentos para doenças crônicas. Considerado o segundo maior do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, o setor vive um momento de profunda transformação.
A Viagem Técnica Internacional (VTI) à China, organizada pela Federação Brasileira das Redes Associativistas de Farmácias (Febrafar), reuniu líderes do setor farmacêutico brasileiro para explorar as inovações e tendências do varejo local. Durante a experiência, ficou evidente que estamos diante de um ecossistema altamente digitalizado, integrado e orientado ao cuidado com as pessoas, funcionando como um novo modelo de saúde conectado.
Farmácias físicas operam em perfeita integração com plataformas digitais, permitindo que o consumidor compre online e retire em loja, receba em casa ou até consulte farmacêuticos virtualmente. Robôs de atendimento, sensores de temperatura, estantes inteligentes e big data são usados para personalizar ofertas, gerenciar estoque em tempo real e otimizar o atendimento. Além disso, o uso de IA para prescrição automatizada e triagem de sintomas já é uma realidade.
A empresa 111 inc é líder no segmento, integrando farmácias físicas e serviços online por meio da realização de consultas médicas virtuais, prescrições eletrônicas e gerenciamento de pacientes crônicos. A JD Health representa mais de 15% do mercado online, atuando com um modelo B2C e B2B que une telemedicina, e-commerce farmacêutico e planos de saúde digitais. Já a Alibaba Health integra farmácias, médicos e seguradoras em uma só plataforma, promovendo um sistema de saúde digital descentralizado, preditivo e centrado no paciente. Enquanto isso, o Tik Tok, plataforma de mídia social globalmente popular, aponta que 91% das pessoas tomam alguma ação depois de assistir a um vídeo na plataforma e isso representa a forma como os brasileiros encontram produtos, serviços e informações.
Outro diferencial é o papel das farmácias como verdadeiros hubs de saúde. Em muitas cidades chinesas, elas oferecem check-ups, vacinação e acompanhamento de pacientes crônicos, em parceria com o governo. Essa evolução para as chamadas “farmácias clínicas” é uma tendência que deve ganhar força no Brasil, especialmente diante da demanda por atenção primária e da capilaridade dessas redes em todo o território nacional.
O setor de distribuição de saúde da China está em transformação, o governo está promovendo reformas para melhorar a eficiência, qualidade e acessibilidade dos serviços de saúde. A indústria é impactada por políticas como “dual invoicing” (dupla fatura), em que o processo de venda de medicamentos se torna mais simples, saindo do fabricante direto ao distribuidor autorizado, que direciona os produtos aos hospitais, clínicas e farmácias. Além disso, também são apostas as licitações centralizadas e separação entre prescrição e venda de medicamentos. O mercado está se consolidando rapidamente, com empresas líderes ganhando participação e investindo em logística inteligente, automação, expansão para serviços de valor agregado como cadeia fria, armazenamento inteligente, rastreabilidade e plataformas digitais.
O Brasil ainda tem desafios específicos, como a regulação sanitária, a desigualdade no acesso à tecnologia e a concentração de serviços médicos nas grandes cidades. Mas a jornada chinesa aponta caminhos possíveis. A adoção de ferramentas digitais pode ajudar a melhorar o acesso à saúde, ampliando os serviços prestados pelas farmácias e a colaboração entre setor público e privado pode democratizar o cuidado.
Empresas do setor farmacêutico que dominarem logística avançada, integração digital e relacionamento com farmácias clínicas sairão na frente. O futuro do setor será moldado por players que combinem capilaridade física com tecnologia de dados. A missão à China mostra que os próximos passos para o varejo farmacêutico estão na entrega de soluções completas de saúde. Integrar tecnologia, logística, atendimento e prevenção será essencial para responder às novas expectativas do consumidor e cuidar melhor das pessoas.
Bernardo Craveiro é diretor de Farma na Linx, empresa especialista em tecnologia para o varejo
Fonte: Linx
crédito da foto: Bruno Tomasoni