Além de reações alérgicas e intoxicação, remédios tomados com muita frequência podem prejudicar o funcionamento de órgãos como o fígado e os rins
Tomar um remédio, já receitado antes para tratar uma dor de cabeça ou um desconforto muscular pode parecer uma atitude inofensiva, mas quando transformada em hábito rotineiro, pode trazer consequências para a saúde. De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), a automedicação causa cerca de 20 mil mortes no Brasil todos os anos, já sendo considerada, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um problema de saúde pública.
“A prática de tomar remédios que já funcionaram antes para tratar um problema corriqueiro é muito comum entre os brasileiros. Mas apesar de parecer uma solução rápida para solucionar casos de febre, azia ou dores pelo corpo, a medicação que não é orientada por um especialista pode causar intoxicação, reações adversas e até mesmo agravar doenças que o paciente já tenha”, explica Thiago Mattos, gerente médico das emergências do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), da Rede Américas, a segunda maior rede de hospitais privados do Brasil.
Em 2023, um estudo da Anvisa mostrou que houve mais de 30 mil casos de intoxicação medicamentosa apenas naquele ano causados por automedicação com remédios comuns, como anti-inflamatórios, analgésicos e antialérgicos. Entre os principais efeitos colaterais, foram registrados casos de alergias graves, hemorragias gástricas e insuficiência renal aguda.
De acordo com Daniela Malta, coordenadora da Emergência do Hospital São Lucas Copacabana, outro problema comum relacionado com a automedicação é o hábito acabar mascarando sintomas importantes, o que dificulta o diagnóstico de doenças mais sérias.
“Os danos dessa prática também se acumulam com o tempo, e, a longo prazo, o organismo pode desenvolver resistência a medicamentos, principalmente a antibióticos. Isso significa que infecções que antes eram tratadas de forma simples passam a ser mais resistentes aos protocolos de medicação mais comuns e se tornam difíceis de cuidar. Um exemplo claro é a resistência bacteriana em pessoas já acostumadas a tomar antibióticos sem orientação médica”, detalha.
Outras consequências para a saúde no futuro incluem doenças hepáticas e renais crônicas provocadas pelo uso contínuo desses medicamentos. O fígado, responsável por metabolizá-los, pode ficar gradualmente sobrecarregado, levando à hepatite medicamentosa. Já os rins, que filtram os resíduos dos remédios, tendem a perder gradualmente a função, exigindo tratamentos como a hemodiálise em casos mais severos.
Para evitar esses riscos, é indicado sempre buscar orientação médica antes de tomar qualquer remédio, mesmo aqueles considerados simples. Também é importante seguir a dosagem correta, o tempo de uso e as instruções da bula, alertam os especialistas.
Fonte: https://diariodorio.com/automedicacao-como-o-habito-pode-prejudicar-a-saude-hoje-e-no-futuro