Faturamento do varejo farmacêutico avançou 12,7% em 2024, ultrapassando pela primeira vez as cifras de R$ 200 bilhões, mas resultado poderia ser melhor
No varejo farmacêutico, com cerca de 94 mil lojas espalhadas pelo país, transformar perdas em lucros tem se tornado uma jornada cada vez mais desafiadora. E não apenas por conta da alta competitividade, margens apertadas ou mudanças no comportamento do consumidor — mas também por fatores críticos como vencimentos de medicamentos e o aumento expressivo de furtos, como apontou a 8ª Pesquisa de Perdas no Varejo Brasileiro elaborada pela Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe).
O faturamento do varejo farmacêutico avançou 12,7% em 2024, ultrapassando pela primeira vez as cifras de R$ 200 bilhões – o montante chegou a R$ 220,9 bi, de acordo com indicadores da IQVIA.
Resultado poderia ser melhor
Mas o resultado poderia ser melhor não fossem as perdas registradas por muitas redes (a Raia Drogasil informou, pela primeira vez ao mercado, de que seu lucro caiu em razão das perdas), o que compromete significativamente a rentabilidade de muitos negócios.
O setor enfrenta um cenário em que as perdas são cada vez mais letais, e se o empreendedor não olhar para isso com atenção estratégica, pode estar perdendo dinheiro sem perceber. Quatro pontos (nada de novidade, diga-se de passagem, mas por vezes desprezado pelas companhias) têm contribuído para o aumento das perdas e lançam um alerta aos varejistas desse segmento.
1. Vencimento de medicamentos
Medicamentos vencidos significam dinheiro perdido na prateleira. Isso ocorre, principalmente, por falta de controle de giro, compras mal planejadas ou estoque inflado de produtos com baixa saída. O problema é ainda mais sensível quando falamos de medicamentos termolábeis (como o Ozempic), que exigem armazenagem especial e têm validade mais restrita.
2. Aumento de furtos — o novo alerta vermelho
Nos últimos anos, o varejo farmacêutico passou a enfrentar um crescimento expressivo no número de furtos, especialmente de dermocosméticos, produtos de alto valor agregado e medicamentos termolábeis. Isso tem causado perdas significativas, muitas vezes silenciosas. O furto interno também é uma realidade que precisa ser enfrentada com processos, tecnologia e cultura de responsabilidade.
3. Má gestão de estoque na loja
Além dos vencimentos e dos furtos, o excesso de produtos parados e a ruptura nos itens mais vendidos seguem como pontos críticos. O estoque precisa deixar de ser depósito e se tornar um ativo estratégico, alinhado à demanda real do negócio.
4. Desorganização financeira da empresa
A falta de controle sobre custos, margens e fluxo de caixa ainda é uma das causas mais comuns de prejuízos. Sem clareza sobre o que entra, o que sai e o que realmente dá lucro, fica impossível tomar decisões assertivas.
Investimentos em tecnologia melhoram a gestão
A boa notícia é que é possível remediar os problemas com uma boa gestão, melhorias nos processos e investimento em tecnologia. Compre baseado em dados reais de vendas, não por impulso comercial, e negocie prazos, bonificações e condições com fornecedores. Use ferramentas de BI (Business Inteligence) para prever sazonalidade e ajustar o mix de produtos.
Quer mais?
Utilize sistemas que alertem sobre vencimentos com antecedência, classifique o estoque por curva ABC e foque na rotação rápida. Medicamentos com menor saída devem ser adquiridos sob demanda ou em menor quantidade. Instale sistemas de monitoramento, câmeras nas gôndolas de dermocosméticos e use etiquetas antifurto nos produtos mais sensíveis. Crie protocolos de conferência interna e rotinas de inventário cego. A prevenção é sempre mais barata que o prejuízo.
O lucro de uma farmácia não está apenas no volume de vendas, mas na qualidade da gestão das perdas. Furtos, vencimentos, má administração de estoque e falta de controle financeiro corroem os resultados — muitas vezes de forma silenciosa.
Transformar perdas em lucros é possível, mas exige olhar técnico, disciplina de gestão e ações preventivas. E principalmente: exige que o varejista pare de apagar incêndios e passe a construir uma farmácia eficiente, segura e preparada para crescer com solidez.
*É CEO da AOzawa Consultoria, especialista em Prevenção de Perdas e Governança, consultor com mais de 40 programas de prevenção de perdas implantados com sucesso, palestrante, professor da FIA Business School e autor do livro “Pentágono de Perdas: Transformando Perdas em Lucros”
Fonte: https://guiadafarmacia.com.br/farmacia-como-transformar-perdas-em-lucros-e-gerar-performance/