Medicamentos antiobesidade e uso de IA podem moldar o futuro global do setor farmacêutico

Relatório publicado por economistas da Allianz Trade destaca os principais riscos e oportunidades para a indústria farmacêutica

As tarifas comerciais dos EUA estão redesenhando cadeias de suprimento globais, intensificando tensões geopolíticas e aumentando a incerteza em todo o mundo. É o que aponta a mais recente análise Sector Atlas 2025: Trade War is a sector war after all, realizada pelos economistas da Allianz Research, divisão de pesquisa macroeconômica da Allianz Trade, líder mundial em seguro de crédito.

O estudo revela que, embora setores como tecnologia da informação e farmacêutico se mantenham resilientes, outros — especialmente automotivo, agronegócio, eletrônicos e construção — enfrentam forte pressão sobre a rentabilidade devido a custos crescentes, volatilidade de mercado e políticas comerciais cada vez mais protecionistas. A América Latina desponta como a região mais arriscada, enquanto a Ásia se mostra relativamente mais segura, reforçando o cenário de incerteza e disparidades regionais para os próximos trimestres.

Principais riscos setoriais no Brasil

Foto: Divulgação

No Brasil, os economistas classificam os setores econômicos em quatro níveis de risco:

  • Baixo: setores com fundamentos sólidos e perspectivas muito favoráveis ou boas;
  • Sensível: setores com fragilidades estruturais e perspectivas desfavoráveis ou ruins;
  • Médio: setores com sinais de fragilidade e possível desaceleração;
  • Alto risco: setores em crise iminente ou já reconhecida.

setor farmacêutico é o único avaliado com risco baixo no país, enquanto os setores têxtil e de produtos químicos foram classificados como de risco alto. Os demais setores estão entre médio e sensível.

Forças e fraquezas globais do setor farmacêutico

Forças:

  • Indústria global consolidada, com vasta gama de produtos e forte presença no mercado;
  • Baixa fragmentação: as 10 maiores empresas controlam cerca de 50% das receitas;
  • Altas barreiras de entrada devido a custos de P&D e necessidade de talentos especializados;
  • Fluxo de caixa robusto que sustenta a inovação contínua;
  • Aumento das doenças crônicas, gerando demanda constante;
  • Expansão do acesso à saúde em mercados emergentes;
  • Medicamentos patenteados permitem margens mais altas que os genéricos.

Fraquezas:

  • Regulamentações rigorosas, que aumentam custos e complexidade;
  • Concorrência crescente de genéricos e biossimilares;
  • Longos processos de aprovação atrasam a entrada de novos medicamentos;
  • Expiração de patentes reduz receita;
  • Predominância de empresas dos EUA e Europa limita acessibilidade em regiões em desenvolvimento;
  • Altos custos de P&D e riscos de falhas no desenvolvimento;
  • Dependência de cadeias de suprimento globais complexas.

Tendências e oportunidades futuras

Aceleração na aprovação de medicamentos: a FDA (agência reguladora dos EUA) aumentou o ritmo de aprovação de medicamentos, com iniciativas para otimizar e melhorar a eficiência. Em 2023, 55 novos medicamentos foram aprovados, em comparação com a média anual de 49 aprovações entre 2018 e 2022, e apenas 36 por ano entre 2013 e 2017. Essa tendência pode acelerar a entrada de terapias inovadoras no mercado.

Crescimento de medicamentos antiobesidade: o lançamento de medicamentos inovadores para obesidade e diabetes gerou uma demanda significativa e um crescimento exponencial de receita para as principais farmacêuticas, formando um oligopólio emergente. Com quase metade da população global prevista para ter sobrepeso ou obesidade até 2030, este segmento está pronto para uma expansão rápida e contínua.

Aumento da concorrência com fabricantes de genéricos: o número de patentes expirando aumentará em 2024, intensificando a concorrência com os fabricantes de genéricos. Como as patentes geralmente duram cerca de 20 anos, o investimento contínuo em P&D e inovação é crucial para que as empresas de medicamentos de marca mantenham a exclusividade de mercado. A introdução de alternativas genéricas pode reduzir a receita de medicamentos de marca em 70-80%.

Crescente competição de medicamentos especiais e biofarmacêuticos: os biofarmacêuticos (medicamentos derivados de fontes biológicas, como células vivas) têm custos de produção e preços mais altos, mas oferecem tratamentos para condições antes incuráveis. Embora a demanda por esses produtos esteja crescendo, eles também enfrentam a concorrência de biossimilares, versões quase idênticas dos biofarmacêuticos originais, o que reflete a mesma dinâmica de “genéricos versus marca”.

Incorporação da Inteligência Artificial (IA): as tecnologias de IA estão começando a desempenhar um papel crucial na pesquisa e desenvolvimento farmacêutico, automatizando ensaios clínicos e acelerando a descoberta, o desenvolvimento e a comercialização de medicamentos. Isso melhorará a eficiência em toda a cadeia de produção e poderá reduzir o tempo de lançamento de novos tratamentos no mercado.

Oportunidades para a indústria

A longo prazo, os economistas acreditam que o pilar principal para a indústria continuar relevante é a inovação. Hoje, ainda existem centenas de doenças que não podem ser totalmente prevenidas ou curadas, o que significa que há muito espaço para exploração científica e potencial de crescimento. Fusões e Aquisições (M&A) são, por exemplo, uma maneira eficiente e comum na indústria de gerar maiores sinergias e impulsionar a inovação. Portanto, podemos esperar que essa estratégia seja fortemente utilizada nos próximos anos.

Segundo o relatório, a oncologia continuará sendo o foco do P&D, pois ainda é a principal fonte de renda para as farmacêuticas. Atualmente, existem cerca de 16.000 medicamentos em desenvolvimento relacionados ao câncer. A imunologia está em segundo lugar com 5.775 medicamentos em desenvolvimento, enquanto o diabetes é o terceiro com 1.400.

Fonte: https://revistadafarmacia.com.br/mercado/uso-de-ia-pode-moldar-o-futuro-global-do-setor-farmaceutico/

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