Variação cambial e dependência do mercado externo para compra de insumos são os principais fatores
O preço dos remédios deverá aumentar no Ceará e no Brasil nos próximos meses, com os especialistas prevendo um encarecimento entre 4,54% e 5,35% a partir de abril. A flutuação tem relação com o preço dos insumos e alguns ajustes no mercado interno.
Segundo Luis Roberto Sá, conselheiro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibed-CE), dois fatores deverão ser fundamentais para a elevação de preço dos remédios: o reajuste do órgão regulador e um ajuste tributário na taxa do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em alguns estados para compensar a “limitação do tributo estadual incidente sobre combustíveis e energia”.
“O aumento dos medicamentos ocorre anualmente no dia 31/03, passando a vigorar a partir do dia 1º abril, autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), órgão que controla os preços dos medicamentos. Para este ano, teremos um duplo aumento, pois além do aumento anual autorizado pelo governo, pelo menos 12 estados estarão aumentando a alíquota de ICMS dos medicamentos, para compensar a limitação do tributo estadual incidente sobre combustíveis e energia”, afirmou.
Outro ponto destacado por Sá foi a escassez de insumos no mercado interno e dependência das importações para as indústrias nacionais manterem o patamar de produção capaz de atender a demanda do País. Muito dependente dos mercados chinês e indiano, o Brasil poderá enfrentar problemas graças à variação cambial do dólar em relação ao real.
“O índice de ajuste anual é calculado a partir de algumas variáveis, sendo a mais importante o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que acumulou alta de 5.79% nos últimos 12 meses. Além disso, o cenário externo deve ser observado com atenção, pois apesar de o Brasil estar entre as 10 maiores indústrias farmacêuticas do Mundo, há uma total dependência da importação de insumos”, disse.
RECUPERAÇÃO DO MERCADO
A perspectiva foi corroborada pelo economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, que ainda ressaltou o impacto da recuperação da demanda interna como fator de potencialização da alta de preços.
“Se a gente observar ao longo dos últimos anos, os indicadores de alteração de preço dos medicamentos vem um pouco abaixo da alteração de outros produtos, como alimentos e vestuário, então existe essa possibilidade de negociação de repasses e o período de alteração é sempre por volta de abril, considerando a negociação de preços dos remédios”, disse.
“Existe uma potencialidade de recuperação de demanda do segmento, como também existem as alterações relacionadas ao ICMS, então é provável que se tenha uma ou duas elevações de preços, ou dois fatores que elevem o preço dos remédios em 2023. Alguns desses fatores estão relacionados ao dólar, mas alguns deles estão ligados à escassez de insumos, gerado por esse desequilíbrio das cadeias produtivas provocado pela pandemia. Ainda existe uma certa pressão por isso aumento dos preços dos insumos médicos”, completou.