Novos estudos mostram que drogas criadas para transtornos como TDAH e depressão têm benefícios em quadros de demência.
Dois novos estudos mostraram que remédios psiquiátricos de uso comum para outros quadros podem ajudar a reduzir os sintomas de Alzheimer, doença progressiva e incurável que acomete mais de um milhão de brasileiros, segundo o Ministério da Saúde.
Cientistas do Imperial College e da Univcrsity Col- lege, ambos de Londres, juntos à Universidade de Cambridge, também no Reino Unido, analisaram dez estudos, com cerca de 1.300 participantes, e identificaram que remédios no radrenérgicos, geralmente utilizados para transtorno de déficit de atenção e hipe- ratividade (TDA11), como a ritalina. promoveram uma melhora “pequena, mas significativa” na cognição geral, incluindo memória, fluência verbal e linguagem de pessoas com Alzheimer.
Os resultados sugerem que utilizar os remédios para o tratamento de pessoas com comprometimento cognitivo leve pode trazer uma série de benefícios, especialmente pelos fárma- cos terem se mostrado seguros na prática clínica. Os estudos, que acompanharam pacientes recebendo os medicamentos em períodos que variaram de duas semanas a um ano, indicaram ainda uma melhora relevante na apatia dos pacientes.
A apatia, caracterizada pelo estado de indiferença e de falta de interesse, é um dos sintomas mais comuns dademência. Segundoosci- entistas, os medicamentos noradrenérgicos levam a um aumento considerável do neurotransmissor nora- drenalina no cérebro, e estudos já mostraram que ele tem um papel importante em mediar a área responsável pela motivação e pela tomada de decisões. A análise foi publicada na revista científica Journal of Neuro- logy Neurosurgery & Psy- chiatry na última semana.
Pouco antes, um outro estudo, conduzido por pes- uisadores da Universida- e do Colorado, nos Estados Unidos, e publicado na revista científica Alzhei- mer’s Research & Therapy, indicouqueoantidepressi- vo imipramina e o antipsi- cótico olanzapina também são eficazes em atenuar os sintomas dadoença, de forma mais significativa.
“As pessoas que receberam esses medicamentos desenvolveram melhor cognição e realmente melhoraram em seu diagnóstico clínico. Em comparação com aqueles que não tomaram esses medicamentos. eles reverteram a doença de Alzheimer para comprometimento cognitivo moderado, ou de comprometimento cognitivo moderado para leve”, afirma o autor sênior do estudo, Hun- tington Potter, professor de neurologia da Escola de Medicina da Universidade do Colorado, em comunicado.
Os cientistas explicam que buscavam drogas capazes de bloquear o efeito da apolipoproteína E4, ou APOE4, que é produzida porumgene ligado ao maior riscode Alzheimer. Isso porque ela atua na formação de placas amiloides no cérebro, que são associadas ao diagnóstico. Eles analisaram, então, 595 compostos listados pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (N1H) como capazes de oferecer o efeito desejado.
DADOS CRUZADOS “Em seguida, analisamos o enorme banco de dados do Centro Nacional de Coordenação do Alzheimer (N ACC) e perguntamos o que acontecia quando alguém recebia esses medicamentos para indicações normais, mas eram pacientes de Alzheimer”, acrescenta Potter.
Como muitas pessoas com a demência desenvolvem problemas de saúde mental, uma série de pacientes já fazia uso dos medicamentos pelo caráter antidepressivo e antipsicótico. Os pesquisadores notaram que essas pessoas com Alzheimer tinham uma melhora significativa do quadro da doença, uma descoberta tida como promissora. (Bernardo Yonesnigue)
O Globo