Em 2019, as empresas já tinham firmado um acordo a partir do qual a Cellera passou a distribuir 12 medicamentos da Janssen
A empresa farmacêutica Cellera Farma está perto de adquirir ativos e direitos para produzir e vender no Brasil o opioide Tylex, da Janssen, divisão farmacêutica da Johnson & Johnson, segundo documentos enviados por fontes ao Scoop, serviço de notícias exclusivas da Mover.
A Cellera é controlada pela gestora brasileira de private equity Principia Capital Partners por meio do VSAP24 Fundo de Investimento em Participações – Empresas Emergentes, e tem como sócio o empresário Omilton Visconde Jr. O valor da transação não foi divulgado.
O negócio representa a continuidade da parceria entre as duas empresas, que em 2019 firmaram um acordo a partir do qual a Cellera passou a distribuir 12 medicamentos da Janssen no Brasil. Com a cooperação, a farmacêutica brasileira ampliou o número de remédios prescritos vendidos no país de 14 para 26.
Procuradas, Cellera Farma e Janssen ainda não responderam aos pedidos de comentários.
A Cellera também expandiu sua oferta de medicamentos recentemente por meio da parceria com o laboratório suíço Ferring, para produção e comercialização de um remédio para cicatrização na área de gastroenterologia.
Esse tipo de parceria reflete a consolidação dos portfólios de companhias do setor farmacêutico. Segundo a PwC, grandes players desse setor buscam otimizar a oferta e querem sair de segmentos vendidos sem receita médica e menos inovadores, o que pode movimentar fusões e aquisições e atrair investimentos no segmento.
Segundo a última demonstração financeira da Cellera, datada de junho de 2021, a empresa teve R$330 milhões de receita e R$ 78,3 milhões de lucro bruto em dezembro de 2020. Um ano antes, quando ainda não havia feito o acordo com a Janssen, a receita da Cellera foi de R$ 140 milhões e o lucro bruto, de R$ 45,4 milhões.
Medicamento controverso
A transação entre a Cellera e a Janssen também carrega algumas controvérsias, já que o Tylex é um opioide, medicamento para controle de dores que também produz as sensações de relaxamento e euforia, e pode causar dependência física e psicológica.
Em 2020, o grupo J&J anunciou que pararia de produzir e vender esse tipo de substância nos Estados Unidos, onde são consumidos 80% da produção mundial de opioides.
Algumas farmacêuticas americanas, incluindo a J&J, foram alvo de ações judiciais relacionadas a alegações de que suas práticas comerciais ajudaram a alimentar uma crise relacionada ao uso descontrolado de opioides nos EUA.
No ano passado, a J&J chegou a um acordo com sete estados americanos para pagar US$ 5 bilhões em nove anos para resolver ações judiciais e reivindicações futuras envolvendo o vício em opioides no País.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil consumiu mais de 21 milhões de embalagens de analgésicos narcóticos em todo o ano de 2020 e, somente nos primeiros seis meses de 2021, o número saltou para mais de 14 milhões.
Já segundo dados de 2019 da Fiocruz, os opioides foram utilizados por 4,4 milhões de pessoas no País.