O mercado de cannabis medicinal promete ganhar força no Brasil nos próximos anos, com potencial para atrair até US$ 30 bilhões e gerar mais de 300 mil empregos em dez anos.
A avaliação é da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann), com base em dados da Euromonitor. Globalmente, essa indústria deve terminar este ano com faturamento de US$ 22 bilhões. E para Fábio Costa, coordenador do grupo de trabalho farmacêutico da entidade, as farmácias podem se tornar grandes polos de disseminação dessa categoria em território nacional.
“Em torno de 30 mil pacientes já tiveram acesso a produtos à base de CBD no Brasil por meio de importação, mas esbarraram na dificuldade para continuar o tratamento por ausência de programas de assistência farmacêutica. Esse gap sinaliza uma oportunidade para o varejo farmacêutico, que vem intensificando a aposta em hubs de saúde”, argumenta.
Mercado de cannabis agitado na Anvisa
Um estudo da Kaya Mind, startup especializada em inteligência de dados sobre o mercado de cannabis, revela um crescimento de 158% nas demandas de importação de medicamentos e produtos do gênero na Anvisa, considerando os primeiros quatro meses do ano em relação ao mesmo período de 2021. “Esse avanço abrange apenas importadores e pessoas físicas em busca de um tratamento especial à base de cannabis. Mas além desse público, também há os que compram o medicamento nas farmácias e associações”, comenta Thiago Dessena Cardoso, cofundador e CIO da Kaya Mind.
Apenas em 2021 as vendas aumentaram mais de 700% nas farmácias de janeiro a outubro, tendência também observada no início de 2022.
IFA de cannabis à vista
Para especialistas, um dos fatores que pode acelerar a evolução desse mercado é a nacionalização da produção de insumos farmacêuticos ativos (IFAs). E um recente entendimento regulatório da Anvisa abriu essa possibilidade, como estratégia para atender à crescente demanda de produtos autorizados na RDC 327/2019.
“É uma pauta muito importante para o Brasil e que pode se tornar um case de sucesso, pois temos total condição de desenvolver um IFA único, de alto valor agregado”, ressalta Norberto Prestes, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi). Ainda segundo o dirigente, trata-se de uma alternativa viável e acessível, “até porque o Brasil tem qualificação técnica e regulatória para despontar nessa cadeia e pode ser uma inspiração para outros IFAs de origem vegetal”.
Cannabis medicinal no SUS
Outro motor para o advento da cannabis pode estar na inclusão da cannabis no SUS, cujas discussões tiveram início no âmbito legislativo por meio do Projeto de Lei 1.180/2019. De autoria do deputado estadual Caio França (PSB-SP), a proposta ainda envolve pesquisa, capacitação e formação dos médicos da saúde pública. Após dois anos em tramitação, está pronto para ser votado.
“Apesar de haver alguma resistência, cada vez mais pessoas estão percebendo a importância da ampliação do acesso quando o paciente puder retirar o canabidiol na farmácia de alto custo. Até do ponto de vista orçamentário o projeto é vantajoso, uma vez que o governo de São Paulo gasta R$ 20 milhões com a judicialização do medicamento”, ressalta França.
Criador da Frente Parlamentar em defesa da cannabis medicinal e do cânhamo industrial, o também deputado estadual Sérgio Victor (Novo-SP) desenvolveu um edital que visa a buscar financiamento para a realização de um estudo que possa embasar e apoiar a implementação da lei.
Fonte: Redação Panorama Farmacêutico