A demanda disparou no último ano depois que anônimos e famosos começaram a compartilhar na internet o processo de perda de peso e indicar o uso do Ozempic
Farmácias de todo o País registram escassez ou falta do medicamento Ozempic, indicado para tratamento da diabetes tipo II e usado, em casos específicos, para controle da obesidade. O cenário é provocado pela alta demanda pelo remédio, que passou a ser consumido de forma indiscriminada por pessoas que buscam emagrecimento com fins estéticos. A situação preocupa especialistas e causa desafios para pacientes brasileiros que dependem da medicação.
O uso indiscriminado e sem receita do Ozempic tem causado a escassez do medicamento e afetado o tratamento de pessoas com diabetes e obesidade. Farmácias de todo o país já estão sem estoque, levando pacientes a se desdobrarem para encontrar as últimas unidades disponíveis ou mudar o tratamento, fazendo uso de outras drogas.
A situação preocupa famílias como a da Nilza Macedo, que mora em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Ela e o marido usam o Ozempic há cerca de seis meses. Nilza é pré-diabética e Lênio Ribeiro faz tratamento pra diabetes.
“No início desse ano a gente já estava sentindo uma dificuldade. Eu corria para comprar a minha e do meu marido, porque a gente tinha um controle fiel. Hoje a gente está passando momentos difíceis, chegando até a eu ter que passar a minha caneta do Ozempic para o meu marido. As pessoas estão ouvindo dizer que Ozempic emagrece e, as pessoas comprando, falta no mercado, e tira o direito das pessoas necessitadas do Ozempic, como eu e meu marido, de cuidar da doença”, relatou.
Um levantamento feito pela reportagem da CBN em 30 farmácias de 15 capitais brasileiras aponta que apenas sete delas tinham o remédio disponível para venda. Mesmo nesses locais, havia poucas unidades restantes. As regiões Norte e Nordeste são as que sofrem mais com o desabastecimento.
Ozempic é o nome comercial de uma molécula chamada semaglutida, que atua na regulação da glicose no sangue. O remédio é indicado para o tratamento da diabetes tipo II. Mas, como o uso do remédio causa uma sensação de saciedade, isso contribui pro emagrecimento.
A demanda disparou no último ano depois que anônimos e famosos começaram a compartilhar na internet o processo de perda de peso e indicar o uso do Ozempic.
A fabricante do medicamento, a Novo Nordisk, confirmou a escassez do produto e estima que o problema seja contornado gradualmente no segundo trimestre.
Apesar de ser direcionado para controle da diabetes, o uso do Ozempic é respeitado no meio científico para o tratamento da obesidade, que é uma doença crônica. Entretanto, diferentes entidades médicas questionam a administração do medicamento para pessoas que querem apenas perder alguns quilos.
Na última semana, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) publicaram uma nota conjunta criticando quem indica e toma o Ozempic para emagracimento para fins estéticos.
A diretora da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e coordenadora departamento de atividade física da Abeso, Dhiãnah Santini, reforça a relevância do Ozempic para o controle da obesidade. Para ela, o uso do medicamento nesses casos pode ser eficaz, desde que acompanhado.
“As pessoas saírem comprando sem orientação, sem acompanhamento médico individualizado, para perda de peso sem necessidade, que seria aquele tratamento “fútil”. A pessoa tem peso normal, mas quer perder quatro, cinco quilos para uma festa, um casamento, e acaba usando a medicação. Qual o impacto disso? Isso acaba afetando as pessoas que já estão usando para controle da glicose, do diabetes, e que têm uma obesidade mais avançada”, explica.
Em janeiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da semaglutida para o combate à obesidade, mas em uma dose superior à que é vendida atualmente no Brasil. Por isso, médicos têm indicado o Ozempic, que possui uma dosagem mais baixa, como alternativa para o tratamento da doença, desde que com acompanhamento adequado.
Ainda assim, o Diretor Sênior da Unidade de Negócios de Diabetes da Novo-Nordisk, Fabricio Aidar, diz que o uso fora da bula não é indicado pela empresa.
“Como fornecedor responsável nós recomendamos o uso de nossos medicamentos de acordo com as indicações aprovadas e seguindo a prescrição médica. Nesse caso, a Novo reforça que a medicação aprovada é indicada para pessoa com Diabetes tipo II, e não está controlada, como coadjuvante de uma dieta balanceada com exercícios físicos”, afirmou.
Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos e na Europa, no Brasil não há exigência de receita pra compra do Ozempic, o que facilitou a venda em larga escala.
A CBN procurou a Anvisa para saber se a agência estuda implementar a obrigatoriedade de receita médica no caso do Ozempic, mas não teve retorno até o fechamento dessa reportagem.
Fonte: https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/404681/uso-sem-receita-do-ozempic-causa-escassez-do-medic.htm