Diabetes: novo tratamento com transplante de células leva à independência de insulina; entenda

Substituição das ilhotas pancreáticas se mostrou uma alternativa eficaz para reverter a dependência de injeções da substância

Um novo tratamento para diabetes tipo 1 conseguiu levar mais da metade dos pacientes com quadros graves da doença a se tornarem independentes da aplicação de insulina. Os resultados foram parte de dois testes clínicos de fase 3, publicados na revista científica Diabetes Care. Os dados comprovaram a eficácia e segurança do transplante de ilhotas pancreáticas, e agora os pesquisadores pretendem submetê-los à Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, em busca de um aval para que o método seja incorporado à parte clínica.

A diabetes é uma doença caracterizada pela produção insuficiente ou pela má absorção da insulina, hormônio responsável por transformar o açúcar (glicose) em energia e retirá-lo do sangue para impedir que o acúmulo provoque uma obstrução. Na diabetes tipo 2, que representa 90% dos casos segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o quadro é causado principalmente por fatores de risco como excesso de açúcar e obesidade.

Isso porque nesses indivíduos há um esforço extra para que as células produtoras da insulina sintetizem mais e mais hormônio, até que eventualmente elas deixem de funcionar corretamente devido à sobrecarga. Por isso, mudanças no estilo de vida são efetivas em prevenir e atenuar o diagnóstico.

Porém, a realidade é muito diferente no caso da diabetes tipo 1, uma doença autoimune que faz com que as próprias defesas do corpo ataquem e destruam as células produtoras de insulina, comprometendo a síntese do hormônio desde o início.

Por isso, embora o tratamento atual com injeções de insulina consiga manter o diagnóstico sob controle, especialistas estudam se a substituição dessas células danificadas por novas e funcionais poderia ser uma opção terapêutica eficaz a longo prazo para contornar a doença. Foi aí que surgiu o chamado transplante de ilhotas pancreáticas.

As ilhotas são regiões do pâncreas formadas por duas células principais, as beta, que produzem a insulina, e as alfa, que sintetizam um outro hormônio chamado de glucagon. Elas são justamente a área destruída na diabetes tipo 1. Assim, o novo tratamento coleta células funcionais do pâncreas de doadores que faleceram e as introduz por meio de um cateter nos pacientes cujas ilhotas estão comprometidas.

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No novo estudo, publicado ontem, os pesquisadores da Escola de Medicina Perelman, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, recrutaram dois grupos de participantes, um que recebeu apenas o transplante das ilhotas, com 48 pessoas, e outro de pessoas que receberam as novas células após um transplante de rim, com 24 indivíduos. Oito anos depois, mais da metade dos voluntários ainda tinha regiões funcionais de produção de insulina.

Além disso, no início do estudo 75% dos voluntários conseguiram interromper a terapia de reposição de insulina por meio de injeções, e mais da metade destes continuaram independentes da aplicação do hormônio quase uma década depois do transplante.

“Esses dados são importantes para mostrar que, a longo prazo, o transplante de ilhotas tem eficácia, inclusive entre aqueles que fizeram transplante de rim. Sim, a maioria dos pacientes com diabetes tipo 1 melhora tremendamente com os atuais sistemas de administração de insulina. Mas, para aqueles que têm mais dificuldade em controlar o açúcar no sangue, e aqueles cuja diabetes já foi complicada pela necessidade de um transplante de rim, os resultados que vimos neste estudo são o que esperamos alcançar há mais de 20 anos”, diz o autor do estudo Michael Rickels, professor de Diabetes e Doenças Metabólicas da universidade, em comunicado.

Os resultados são animadores, mas o tratamento não é tão simples, por isso deverá ser indicado apenas a casos mais graves ou resistentes às terapias atuais. Isso porque pacientes com diabetes já são mais suscetíveis a doenças e ao agravamento de problemas de saúde, então o procedimento de um transplante envolve riscos.

Por envolver drogas imunossupressoras e anti-inflamatórios, para evitar a rejeição às novas células, esses riscos são intensificados. Ainda assim, os pesquisadores afirmam que os efeitos adversos observados no estudo, que envolveram hospitalizações de alguns casos por desidratação ou infecção, foram menores do que os esperados e não foram associados ao transplante em si.

“Estes são os pacientes mais gravemente afetados, e você esperaria ver algumas hospitalizações em uma população tratada com terapia de imunossupressão. É importante notar que nenhum dos eventos adversos foi relacionado ao produto real da ilhota. Além disso, a função renal permaneceu estável durante o acompanhamento de longo prazo em ambas as coortes, de fato melhorando naqueles que receberam transplantes de rim. No geral, esse é um procedimento muito menos invasivo que se abre a complicações significativamente menores do que muitos desses pacientes do contrário exigiriam, (como) um transplante de pâncreas, que envolve uma grande cirurgia abdominal”, afirma Rickels.

Fonte: https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2022/10/diabetes-novo-tratamento-com-transplante-de-celulas-leva-a-independencia-de-insulina-entenda.ghtml

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